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Tem dias que meu coração

Fica num estado tal,

Tomado de tanta emoção

Algo fora do normal

Tem horas que chega doer

Ouvir uma música bela,

Ler num livro algo bonito

Ou apenas parar, e pensar nela...

Em outros dias, meu coração

É víscera, é animal

Em estado de agitação

Uma fera, um ser primal

Tem horas que é afiado

Tem jeito de vidro partido

Como por aço ou ferro forjado

Por vezes fere, ou é ferido

Uns dias meu olhar captura

A mais singela das cenas

E ali, no peito a segura

Pra não esquecer, apenas.

Uns dias, vejo só a dor

A minha, a de quem passa perto

Da solidão, da falta de amor

Das surpresas, ou do incerto

Uns dias, trago o mundo na alma

E uma flor em minhas mãos

A música que as feras acalma

No olhar trago pronto o perdão

Em outros, sou puro tormento

Advogado, juiz, júri, executor

Não sei de nada, só do momento

Nada me tira desse torpor

E chega um dia em que nada sou

Despido de tudo, até de mim mesmo

Olho pra trás, para quem me amou

Alcanço no mais profundo do meu ser

E pergunto, “quem, quem mesmo eu sou?”

O passado olha minha face triste

De joelhos, me curvo ante o vazio infinito

Mais uma vez pergunto, as mãos em riste

O céu responde, num vento aflito

Cinzento, escuro o ar abafado

Eu na terra, por formigas rodeado

Sinto o cheiro molhado do chão

E começa a chover então...

O mundo me troveja respostas

Gotas de verdade caem em mim

Não nasci para virar as costas

Nem pro que é bom, nem pro que é ruim

Essa é a minha sina, a minha missão

Andar, esperar, fazer o que puder

Agarrar se estiver ao alcance da mão

Ofertar um sorriso a alguém quando der

Procurar o meu próprio Deus pessoal

Com meu jeito, meu pleito, minha feição

Esperar que a paz venha um dia, afinal

E amar, e escrever, e fazer disso oração.