Falando sério
Desde quando
nos contentamos com pouco
aceitamos as sobras
nos trucidamos pelos farelos
de banquetes que não são nossos?
Até quando
nossa vida será
canção lamento
rap trágico
samba iludido
axé sem respeito
funk prostituível
canto regional?
Desde quando
somos celas de vítimas
se ocupamos os bancos dos réus
e os juízes nos sentenciam
por não termos causa própria?
Até quando
a cana
o cano
a coca
o crack
serão rotas de fuga
que não nos levam a lugar algum?
Desde quando
somos
chicote e açoite
servo e feitor
judas camuflados
engenhos disfarçados
comungando com o senhor?
Até quando
o sal irmão na ferida
o afeto tirano
sentimentos retalhados em postas
esta corrosão medular
serão poços sem fundo
afogando-nos
em mágoas profundas?
Cidade Tiradentes, Abril, 2009