A Calma no Olho do Furacão

Na manhã do dia em que despertei

Vi o céu cinzento, a chuva caindo fina

E fiquei até contente, não me importei

Se azul, o céu não me enchesse a retina

Não necessito de um dia ensolarado

Nem de uma perfeita trilha sonora

Para me sentir bem, para estar centrado

Não preciso de remédio nem pílula agora,

Nem tampouco da ausência de medo

Não preciso mais da velha segurança

Não preciso acordar mais cedo

Não necessito usar uma aliança

Nem nada que me defina num dedo..

Não preciso que olhem para mim

Nem incomoda que todos me ignorem

Eu caminho impávido para o fim

Aviso a quem de mim se enamore...

Que prazer é viver na tormenta

E abandonar-se ao uivo da tempestade

A liberdade de quem já não tenta

Vencer a corrente contra sua vontade

Nadar calmamente no olho do furacão

Encontrar paz tão bela num lugar assim

Enquanto todos se desesperam

Olhar para o céu, um encanto sem fim

Confiar que a calma é uma dádiva mestra

Que a poucos felizardos é confiada

Que enquanto a todos o medo sequestra

Cabe ao calmo indicar a estrada

E quando a tormenta tiver passado

E tudo mais voltar ao normal

Todos seguem em seu enfado

Em seu dia-a-dia material

O ser humano, mal-agradecido

Nem lembrará do sufoco passado

Ou tampouco da saída final

E o calmo, seguirá esquecido

Por ninguém será lembrado

Mas no fim, ele não acha mal...

Se não percebem seu valor e importância,

Basta que a vida lhe apresente tornados

E ele tomará a devida distância

Mergulhará em algum de seus lados

Nadará até o cerne da questão

E Tranquilo, no olho da tempestade

Sentir-se-á em casa então

É onde mora a mais pura verdade

Onde não há tempo para ilusão

Ali, onde se vê limpo, o firmamento

Onde a mente é o mais caro instrumento.

E estará em seu elemento, flutuando

E ao seu redor, os ventos urrando

E lá em cima o céu, tão belo

O sol, explodindo, amarelo

Ver a vida de todos passando,

Os incultos se digladiando

Os cultos, muitos, reclamando

E os calmos, calmamente, amando.