Testamento

- Talvez seja impossível fazer cumprir o que viria a ser

Com certeza, como que uma última vontade

O teor dessas linhas que, sem alarde nem lamento

Expressam tão somente um eterno desejo

Mas, se eu pudesse, com certeza deixaria um testamento

Ainda sabendo que em seus termos figurariam ofertas abstratas

Nele repartiria entre os que mais amo tudo o que em mim já foi amor

Distribuiria belos e despretensiosos sorrisos

Jogaria ao vento, porém, as gotas salinas que jorraram em dor

Simplesmente porque há certas coisas que não merecem ser perpetuadas

Gostaria de dar abrigo aos que precisam de acalento,

Alegria àqueles que nublam o rosto

Despertar paixão nos que desejei

Assim como amor, nos poucos que amei

Abrandar a angústia da limitação de qualquer ordem

Aos descrentes de si, alimentar a sorte

Fazer dos pequenos olhos das crianças os faróis da humanidade...

- Mas...quanta pretensão!

- Eu nunca disse que seriam termos passíveis de realização

Se podemos desejar o mundo, ele inteiro jamais chegaremos a ter

Mesmo assim, testamentos nunca serão omitidos

Nem desejos, vãos

Ana Pismel
Enviado por Ana Pismel em 18/02/2009
Código do texto: T1445880
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