FOME DE MIM

Hoje, tenho fome de me compreender.

Fome crônica, de tão antiga.

Fome de me desfazer do que me mata,

como se faz com a barata

no canto da parede encurralada.

Fome, que nenhum alimento sacia,

que nada que me seja dado aplacará.

Fome de remédio para as minhas dores:

de amar,

viver,

descobrir

e sonhar.

Fome de partir de mim mesmo

rumo a qualquer lugar.

Fome de drogas

que ainda não se conseguiu inventar.

Fome de minha antiga fome

de coisas pequenas e banais.

Fome de sexo e abstinência,

de reclusão e independência,

de me deixar fluir feito o rio

que sempre encontra sua foz

mesmo que, com minhas mãos frágeis,

eu insista em represá-lo.

Hoje, tenho fome.

Muita fome!

Por favor, sirvam-me depressa,

numa enorme travessa,

um mundo novo

sem horror

ou qualquer outra mazela

que lhe altere o sabor;

uma fatia imensa de bondade

sem caroços que me engasguem

ou provoquem indigestão;

um espelho mágico, na saída,

onde eu possa ver refletida

a outra face, a escondida,

do meu próprio coração.

- JL Santos, 06/02/2009 -

jlsantos
Enviado por jlsantos em 06/02/2009
Código do texto: T1424594