INSIPIENTES PRAZERES
Queria sentir o prazer
de não voar
além da minha imaginação.
Sabe, o prazer de ser
como certas pessoas
que vão e voltam
para casa
- todo dia -
de trem
ou ônibus lotados,
piadas sem graça na boca,
imersos em falsa alegria,
que lhes transborda do coração,
mas, sem fazer perguntas idiotas
acerca do significado da vida,
apenas, planejando
o adultério de sexta-feira
e o churrasco domingueiro
com os falsos amigos
e a família
que fingem amar.
Prazeres intensos e vazios
(desbotados de tão costumeiros),
anestesiadores da alma e dos sentidos,
facilitadores, eu sei,
da difícil tarefa de viver
entre iguais tão diferentes;
gente, tão perto na rua,
no trabalho, na casa,
mas, anos-luzes afastados
de nossos mais secretos sentimentos,
das nossas mais censuradas ânsias,
que se limitam a boiar na superfície
de nossos oceanos abissais,
território sagrado
onde somente se entra
envolto no manto do desconhecimento
e enredado nas teias da compreensão profunda.
- JL Santos, 25/11/2008