O Encosto
Originada de uma maledicência
De um certo terreiro marginal
Não carece que tua procedência
Seja afro-brasileira natal
Teu mal é ser ruim
E ser ruim, é universal
Do reino de Deus,
Ou do diabo, não importa
Basta saber que entraste
Um dia pela minha porta
Disfarçada em panos seus,
Escondeu bem sua cara torta
E sua vocação de traste
E emulou-se uma relação
Mezzo fingimento,
Mezzo Boa intenção,
E você teve bom tratamento
Em inversa proporção
Ao que causou de tormento
Três meses de ilusão
E três de realidade
Mentira, manipulação
Amostras de insanidade
Um crime foi cometido
Em nome da sua loucura
Guardo a prova comigo
Uma prova da tortura
Incomodou, e errou
Em nome de um egoísmo
Sozinha com seu erro,
Se atirou no abismo
Um dia quem sabe.
Verás que não há
Caminho de volta
Pois a porta que se abre
E fecha-se em revolta
É o sinal de que o seu errar
Não é humano nem pagão
E que esse erro não merece
Nem a sombra do perdão
E até hoje tal um zumbi
Insiste em não descansar
Em perambular por aí
E no caixão não se deitar
Morta-viva, ser sem noção
Nem de que é ruim
Nem do que é bom
Um espírito torto
Meio galinha, meio de porco
Uma alma encardida, preta
Que não descansa,
Que não se ajeita
Que a ignorância
Seja seu fim
E o desprezo
Completo e cabal
A única coisa
Que terá de mim.
E morrerás, afinal.