DO TEMPO

Pelos ponteiros, passa

sem mesura, o tempo.

sem endireitar os tortos.

Não tem pressa.

É constante em si mesmo,

condutor de todo destino.

No entanto, nada manipula:

é conseqüência e não circunstância.

Atrás, o esquecimento

vem como um coveiro

escondendo os vestígios

do segundo anterior.

Mas os fantasmas continuam a acenar

no inconsciente;

pois o inconsciente não é cônscio do tempo

e nem dele filho.

É bastardo que bate à porta,

em dias de tempestade e escuridão.

Pelo pesadelo das horas insones,

que soluçam no relógio, o inevitável:

cavaleiro sem cabeça.

Porque não distingo seu olhar,

nem seu sorriso,

que ainda escuto:

gargalhada no vento...

Ele ri,

enquanto perco tempo,

sem entender que ele,

o tempo, não se perde.

Não há tempo a perder.

Todo tempo se transforma

em tempo a tempo de ser...