FUMANDO NA CHUVA
Ninguém parou pra perguntar
Ao dia infante o preço da alegria.
Mas um menino furou o céu com o dedo
E devassou o mistério no armário de Deus.
Quantas eras se anulam nesta casa?
O oceano prossegue no mesmo discurso
Onde um homem não fala mais alto que um fóssil
E toda flor é indivisível.
O céu se resume, o cinza se agiganta...
Tudo é tão grande, desde que seja inútil...
Os pés vão devorando asfaltos enfadonhos
Como se procurassem entorta-los numa dose.
A vida segue em seu eterno fratricídio,
A eterna violência aos inocentes.
Quando os pássaros chegam do bar
É a corrente do tempo que os espera.
Às vezes vem do nada uma esperança,
Ondas de luz que morrem na retina.
Às vezes uma borboleta rompe o tédio
Pairando sobre os números laplacianos.
Do ocaso nasce a dor de doze cores
Que chora como as pedras e as montanhas.
A porta aberta, a vontade de ficar
Fumando na chuva intransigente,
Comendo musgo com os olhos,
Soletrando as mulheres e beijando as palavras...