O canto das flores

Perguntei a uma Rosa Negra

O porquê do seu negrume

Ela disse que com tristeza

Aumentava o seu perfume

Passei por Orquideas berrantes

Na sua força belas, bizarras

falavam de amores e amantes

Mistérios e canto das cigarras

Avistei a bela Dália, carnuda

Melâncólica no seu recanto

afaguei-a, beleza desnuda

Segredou-me o seu encanto

Vi então um Amor Perfeito

exuberante, frágil me chamou

Mostrou-me que no seu peito

Guarda o nome de quem amou

Encontrei um Mal-me-Quer

Que a todas invejava

Pois sabia que uma qualquer

Por um Bem-me-Quer o trocava

E lá no topo do jardim

Sentada no seu trono real

Olhou então para mim

A nobre coroa imperial

Seduziu-me, deslumbrante

Ordenou: "Guerreira e mulher

ergue-te forte, deslumbrante

não te deixes encolher!"

Entre as flores me perdi

todas elas me falaram

A nenhuma eu colhi

todas elas me ensinaram

Que ser flor neste jardim

é tarefa impossivel

pois se olhas para mim

fico logo vulnerável

Nao me querias tu colher

Muito menos me amar

Não sou flor, eu sou mulher

eu sou livre, sou brotar

Broto sempre que me apagas

Broto aqui, ali e além

Broto em flores do jardim

Broto em ti, que me queres bem.

Uta

(heterónimo de Ruth Collaço)

Ruth Collaço
Enviado por Ruth Collaço em 15/03/2025
Código do texto: T8286245
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