O canto das flores
Perguntei a uma Rosa Negra
O porquê do seu negrume
Ela disse que com tristeza
Aumentava o seu perfume
Passei por Orquideas berrantes
Na sua força belas, bizarras
falavam de amores e amantes
Mistérios e canto das cigarras
Avistei a bela Dália, carnuda
Melâncólica no seu recanto
afaguei-a, beleza desnuda
Segredou-me o seu encanto
Vi então um Amor Perfeito
exuberante, frágil me chamou
Mostrou-me que no seu peito
Guarda o nome de quem amou
Encontrei um Mal-me-Quer
Que a todas invejava
Pois sabia que uma qualquer
Por um Bem-me-Quer o trocava
E lá no topo do jardim
Sentada no seu trono real
Olhou então para mim
A nobre coroa imperial
Seduziu-me, deslumbrante
Ordenou: "Guerreira e mulher
ergue-te forte, deslumbrante
não te deixes encolher!"
Entre as flores me perdi
todas elas me falaram
A nenhuma eu colhi
todas elas me ensinaram
Que ser flor neste jardim
é tarefa impossivel
pois se olhas para mim
fico logo vulnerável
Nao me querias tu colher
Muito menos me amar
Não sou flor, eu sou mulher
eu sou livre, sou brotar
Broto sempre que me apagas
Broto aqui, ali e além
Broto em flores do jardim
Broto em ti, que me queres bem.
Uta
(heterónimo de Ruth Collaço)