Oceano em mim
Tenho medo de formar palavras
e, de repente, descobrir o que sinto.
Me perco no labirinto que projetei,
esqueço o caminho, dou voltas,
ando em círculos infinitos.
Caio sempre no mesmo lugar.
À beira de um oceano,
sou puxada por Yemanjá.
Resisto à sua força, sinto as ondas,
a água cobrindo meus pés.
Fico parada, não vejo minhas pernas,
não vejo meus braços, não vejo nada.
Apenas o céu azul e as nuvens, a bailar
acima de mim. Flutuo na água, esqueço
onde estou e vou para longe, bem distante.
Me torno mar a contemplar, sem peso,
sem controle, sem pensamentos,
segura nos braços de Odoyá.
Ela me guia pelos espaços represados e
enclausurados. Me ensina que não há
o que temer: posso transbordar.
Não irei me afogar ou invadir ninguém,
mas sim tornar-me imensidão.
Água que desagua, nascente que nunca seca,
abundante, vira cachoeira, forma rio,
seguindo para o seu destino: oceano.