ENQUANTO A TERRA SOFRE CALADA

ENQUANTO A TERRA SOFRE CALADA

 

Nada é fácil pelo universo,

Que até o sol está cansado,

De tanto aquecer o meu verso,

Que confesso estar resfriado.

 

Mas ainda ouvimos Confúcio,

Pela graça da nossa escrita,

E não creio ser algo lúcido,

Calar minha letra que grita.

 

Desaprender a ler e escrever,

Desde quando tem algo moderno,

Me dá medo de um dia esquecer,

O motivo de ter meu caderno.

 

O que falo reflete um baú,

Onde estão os meus desatinos,

Mas também é meu norte e sul,

Como o ovo chocado no ninho.

 

Quem só pensa no mundo agora,

Não percebe o colo ancestral,

Nem valora a vida de outrora,

Pois já fomos um bom animal.

 

Nós comíamos sem os venenos,

Mas com o fogo foi decisivo,

E vencemos o tempo ao menos,

Mesmo sabendo ainda cativos.

 

O defeito maior dos humanos,

É querer servidão dos irmãos,

Ou deixar de viver do escambo,

Para ter pressa e escravidão.

 

O espaço celeste é o eterno,

E tudo se gesta com sincronia,

E mesmo havendo o melhor terno,

Se nasce desnudo e da agonia.

 

Enquanto a terra sofre calada,

E somente ela é sábia e espera,

Eu aguardo o giro da via láctea,

Sabendo que a humanidade já era.