CACAU SEM CORNETA, POUPAR SEM POLPA!

CACAU SEM CORNETA, POUPAR SEM POLPA!

A região cacaueira, já foi Eldorado, /

Sorriso dobrado, cangalha na mula, /

Ou cochos talhados, subindo a picada /

Colhendo as cabaças, com mel, em fartura. /

Facão embainhado, podão ao seu lado, /

Corneta zunindo, cobras sibilando, é jaca madura.

Roça dá tudo, inhame e aipim amanteigado,/

Farinha da boa, jenipapo, jabuticabeira, /

Abacateiro, pimenta, arde até quem aguenta, /

Cana Caiana que no alambique fermenta, /

Roçando a estrada, biscol limpa os lados, /

Colhemos de tudo, já vamos pra feira.

Banana da prata, da terra e a batata, /

Pitanga, carambola, cajueiro gigante na mata, /

Mexerica, laranja d'água e de umbigo, Bahia, /

Tirando côco, urucum, goiaba e lichia, /

Galo acorda às quatro, isso é fato, é na lata /

Ainda é madrugada, joão de barro e sabiá assobia.

O cacau tá colhido, e no chão escorrido, /

Desperdício é havido, mel e polpa perdido, /

Corneta afiado, machado na lenha, /

Prepara a barcaça, fornalha que assa, /

Secando o cacau, só a polpa não acha, /

Não se poupa na caixa, prejuízo urdido.

Desde quando a vassoura bruxou a lavoura, /

Podridão parda, sem a mata a chuva tarda, /

Produção despencou, quem aguarda, /

Melhor solução, em pastos se buscou, /

A aguada secou, pois tudo se roçou, /

Desprotegendo fazendas, o fim já não tarda.

Quem via chover, e todo dia colher, /

Fica até abismado, triste e acamado, /

Biscol foi pro lado, roçadeira sem fé, /

Fé num santo remédio, pro fruto e preço, /

Pois trabalhador já não tem endereço, /

Tá que nem pedreiro de meia colher.

Mão de obra tá cara, pro produto que paga, /

Vassoura ataca, produção só em baixa, /

A precisão de mão de obra não encaixa, /

Pois o orçamento só anda por baixo, /

Que nem a banana dá mais cacho, /

Arrendar terra é solução que é praga.

Quem via o palmito, e os macacos no grito, /

Tem tanto tempo, que nem acredito, /

Jacarandá, Jequitibá, hoje é mito, /

Que nem polícia controla as serras, /

Que cortam as sombras, de galhas eternas, /

Secando fontes, sem retorno, tenho dito!

E o ouro da mata atlântica se foi, /

Sem o respeito o qual lhe é devido, /

Pois foi sustento, do povo sofrido, /

E até dos feitores e senhores de outrora, /

Parece que nem a prece pra Nossa Senhora,

Aqui não vai servir, porquê já se foi!

Publicado no Facebook em 27/04/2018