BRISA VESPERTINA
A tarde anunciava-se
Debruçada na tepidez
Da sua sonolenta brisa
.
Desse ventar tão leve
Queria sentir sua pele
Fermentada em leveduras
Tatuada pelas lavraturas
Das paixões indeléveis
.
Sentia o látego suave
Dos seus eólicos fios
A acariciar minha face
No verbo de todo soprar
Trazendo o frescor do ar
Nas ondas onde há mar
.
E da palavra
Se fez sua lavra
E da sua lavra
Se fez lavrador
.
E no meu rosto sonhador
Esculpia as suas valas
Escorredouro de minhas lágrimas
Que da sua cálida ventania
Das suas atmosféricas falas
Como aragem de poesia
Levava todas as minhas lástimas
A minha insurreta aflição
E a lançava no fundo
Do olho de um furacão.
.
Ah, refrescante brisa vespertina!
Vem para mim, sibilante menina
Vem com seus auspícios
Para varrer meus suplícios
Nos braços dos seus ventos
Nos barcos em movimento
.
Nos berços
Nos terços
Da vida que se inicia
Da criação
Da prece, da liturgia
Da oração!
.
Do sopro que me fascina
Com calma e sem alarde
Em todo começo de tarde
Na espreita e na surdina
Na sua brisa vespertina.
© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves
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