BRISA VESPERTINA

A tarde anunciava-se

Debruçada na tepidez

Da sua sonolenta brisa

.

Desse ventar tão leve

Queria sentir sua pele

Fermentada em leveduras

Tatuada pelas lavraturas

Das paixões indeléveis

.

Sentia o látego suave

Dos seus eólicos fios

A acariciar minha face

No verbo de todo soprar

Trazendo o frescor do ar

Nas ondas onde há mar

.

E da palavra

Se fez sua lavra

E da sua lavra

Se fez lavrador

.

E no meu rosto sonhador

Esculpia as suas valas

Escorredouro de minhas lágrimas

Que da sua cálida ventania

Das suas atmosféricas falas

Como aragem de poesia

Levava todas as minhas lástimas

A minha insurreta aflição

E a lançava no fundo

Do olho de um furacão.

.

Ah, refrescante brisa vespertina!

Vem para mim, sibilante menina

Vem com seus auspícios

Para varrer meus suplícios

Nos braços dos seus ventos

Nos barcos em movimento

.

Nos berços

Nos terços

Da vida que se inicia

Da criação

Da prece, da liturgia

Da oração!

.

Do sopro que me fascina

Com calma e sem alarde

Em todo começo de tarde

Na espreita e na surdina

Na sua brisa vespertina.

© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves

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Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 15/09/2019
Código do texto: T6745339
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