MADRUGADA
(ao som de kipanana na Huila)
E no começo do dia ansiado
A névoa dissolve-se branda
Em savana aberta e viva
Povoada por pangolins
E um francolim atónito
Que ora ascende ora pousa
No tão esparso arvoredo
Assustando sonadas pacaças
Ante os efémeros e pardais
Dançando em reviravoltas
E contemplando à volta
Da aragem peregrina
Que então se vai com vagar
Para lá da montanha poça
Ao encontro dum encanto
E um clarão de colores mil
Cantados em voo alto
Numa manhã de mariposas
Logo à espreita do lago
Rente ao vale que vale a pena
E um bando de gaivotas
À vista, levando caminho
Dentre besouros em fuga
Que em seus magos giros
Despertam o sol dormente
Co’ uma pinga de chuva
E promessas de colheitas
Ah! Naveza seja louvada!
Naveza = divindade
Escrito em Kimbundu (Angola).
Tradução portuguesa do autor.