O caminhante

(Descrição da jornada política no roteiro entre Espinosa/Passagem das Canoas-Gado Bravo/Parque Caminho das Gerais)

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Longa caminhada pelo sertão

Vai o viajante esperançoso

Caminhos de pedras e chão

Olhar distante no poente.

Canta o puruquero ao leste

Quero-quero estridente

Onde o bebedouro resseca

Nada oferece ao caminhante.

As salinas e poço seco

Recebe meio sem graça

Onça sussuarana que urra

Engole a alegre macaca.

Enxerga a vila que estreita

Histórias reacendem na memória

Distantes saudades da infância

Tempos alegres de outrora

Zé Lins, Alda e muita festa.

Águas redentoras do sertão

Vida que jorra em tubos

Esperanças deste chão.

Estreita o magro e se adianta

Cachoeiras sem correntezas

Vidas secas e ardentes

Duras existências assentadas

Núcleos de sonhos abortados.

Pedra pequena no sapato

Calos e massagens raras

Retira o cansaço no lago

Brincam ligeiras capivaras

Mergulham acima e abaixo

Rodeiam e nadam ligeiras

Caititus abrem caminhos

Campinhos ficam para trás

Vidas alagadas em fartura

Matas e desvios anunciam

Tempos regados à chuva

Bosques de Juremas

Barrigudas e periperis

Lagos e muita piranha

Jacarés nadando de costas

Vidas alegres e abundantes

Vibram entre faunas e floras

Felicitam o cansado viajante.

Roça velha já não produz

Falta adubo para a vida

Água nas profundas raízes

Mudam o destino cruel

Salve as vidas em crises

Recanto do grande coronel

Onde as águas frias viram tempos

Tempos de passagens de canoas

Transpondo os limites dos rios

Viaja entre mineiros e baianos

Raízes do zumbi dos palmares

Delimitam a fé e a esperança

Cursos sem vida e escaldantes

Declina diante do destino

O rio pequeno e agonizante

Diante do grande exuberante.

Volta o viajante em desatino

Medita o louco e contrassenso

Os disparates da caminhada

Segue em poço triste

Lagrima amarga sufocada.

Vista alegre o gentil camarada

O brejinho após a serra branca

Rodeia os caminhos dos gerais

Parque da vida e da esperança.