MORRE UM RIO
A quietude da cidade é fúnebre.
Sangra o coração dos munícipes,
Tanto quanto o rio de antigas águas cristalinas
E que agora se transmuta
Em caudal leito de lama!
Os sonhos se desfazem
E um torpor turva a visão dos filhos
Da terra desolada que cega os olhares
Atônitos e desesperançosos
Perdidos em espirais de tristeza.
Adeus, Rio Doce...
Negaram-te a vida que fluía abundante,
Atraída pelo silêncio da natureza
Em relances de sublime encanto.
E hoje, o teu trajeto é ritmado em pranto.
A negligência do homem foi fatal
Para o desmoronamento da barragem
Já tão fatigada pelo tempo.
E agora, tudo se desfaz: construções
Erguidas em suores, plantas e animais.
Fica a sensação estranha
De um céu esgotado por névoas difusas.
Nada mais fascina,
Apenas um silêncio fúnebre
Marca o calendário da natureza finda.