Gentileza Humana
Início.
Tenha zelo pelos rios,
Abaixe o nariz e mire a limpidez da cor.
Eles necessitam do bálsamo nada indecoroso;
Do sabor da insipidez.
Alimente-os com o líquido que principia a vida:
Amor.
Apresente a forca para os rios;
Torça e espraie os meandros dos rios,
Aniquile os rios; dizime os rios.
Estupidez de toda flor.
Esfaqueie os rios;
Pinte com mercúrio-cromo as águas dos rios;
Encha-os de matéria orgânica;
Sugue todo o oxigênio dos rios;
Extermine-os, asfixiando-os.
Saqueie os rios.
Infelizes, os rios nasceram para morrer de sede;
Sedentos, sedosos, desidratados.
Feche os olhos e conte até cem,
Nas cordilheiras, baixios e cidades,
Serpenteando sob os odores,
Os rios merecem morrer de carinhos e atrocidades.
Ato consumado: abra o sorriso escarnecedor.
Sorria dos rios de lábios esturricados;
Rios mortos. Rios abobados.
Rios de insetos, rios de dejetos!
Fim!
Fim dos dilemas;
Escrito em forma de versos proseados;
Sobre os rios de coitados;
Que não desapareceram entre as nuvens.
Talvez...talvez...talvez...
Sabe-se lá os porquês,
Das evasivas; do triste fim deste poema!
A lágrima ressuscitada
"E agora senhor, onde irás buscar água para irrigar as suas lágrimas no velório de seu filho; porque a água que falta em muitos olhos míopes e rudes, sobram nos mais sensíveis!?"
"Aproveitando o ensejo, saliento que olhos de mina d´águas estão sendo aniquilados, brutalmente arrancados, dizimados friamente, sem o menor sentimento humano; sem o menor sentimento de perda; sem o menor sentimento de amor"!
Assim como você, estou de luto. Os meus pêsames tem o volume, o peso, a tristeza, a dor em doses certas e valem para nós dois.
Att.: Reservatório de Água da Cantareira.
Bom dia!