solar
por vezes quero fundir-me ao ar
para com o vento viajar
pelas avenidas da cidade
espalhando nuvens d'água
em matas, rios e vilarejos.
viraria parte da atmosfera,
perdida em átomos dispersos
impregnando a terra de versos
ficando em lugares altos onde vejo
passarem tempos, épocas e eras.
por vezes, seria eu solo
somente para em minha humildade
enquanto o mundo me pisasse
eu abraçaria rios e raízes no colo.
em minhas entranhas, escorreria
a água das chuvas frias,
brotaria o ninho das sementes
e passariam formigas, toupeiras, serpentes.
O solo que o mundo pisa
recebe a vida quando também finda
e de solo eu seria juntamente
ar, verde, bichos e água.
todas coisas em mim desintegradas.
No entanto, limito-me a solar
sobre idas e vindas da vida.
Eu sou apenas carne que respira
esses nobres gases e pisa em nobre solo.