Praia
Tudo o que posso fazer é admirar
Tudo o que posso fazer é alcançar
Um passo a mais nas areias daquele ido mar
Que recolheu a proa determinado
A levar quem ousasse pará-lo.
Foi intrépido sem me perguntar
Como se uma vez sob minha vigília
Pudesse sorrateiramente escapar
Por acaso não deveria ele me perguntar
Se desconheço as leis do mar?
Por que estás surpreso
Se és tu quem está sempre a me observar?
E não percebe ele sua tamanha insensibilidade!
Não em largar-me mas em insistir nas suas manhas
Vai tecer-se mais longe onde a Lua lhe chama
E indiferente ao reles mundo retirar-se
E se pego-lhe pelo braço, ele o abandona [como um pepino do mar]
E sussurra ironias enquanto este se esvai de minha palma
Cedo ou tarde aquilo se reconstituirá
Enquanto eu pereço em flácidos e preciosos membros...
Não posso, não devo, não quer Deus
Que eu sofra os males da beleza
E da prodigiosidade desta proeza
Quero como aquele sujeito escorrer e absorver!
Não sei que flexibilidade é essa
De estar preso a articulações,
E declarar a vida resolvida
Após malabarismos sem canções
Incorporo o eremita e lanço minha jangada
Sobre o infindo horizonte que eu acreditava
Ser as fronteiras, por mim protegidas, limitadas
Esse espírito de aprendiz quem sabe
Me guiará
E ignorando os enjoos
Novas fontes encontrar
Veloz eficazmente, que navio nenhum
No estrondar das suas velas
Atritado com essa imensidão
Traria-me a tantos lugares
Cada um com sua peculiaridade
Cada indivíduo muito vale..
Embora não possa afirmar-me nos recantos
Da minha humilde solidão
Poderoso tal que esse magnífico
Mar não me esmoreça
Essa constituição que me limita e que me centra
Ah! Ela me permitiu rigidez suficiente
Para que astros menores que aquele ente
Estivessem sob os pés da MINHA inteligência.