UM KAMIKAZE
Deixa que eu seja um peixe.
Livre, neste rio assoreado.
De margens disformes.
De imagens rasas, raras outrora.
Agora comuns neste pantanal de areia.
Deixa que eu, um kamikaze,
me case cachoeira acima.
Que enfrente o pequeno turbilhão
de águas mansas.
E voe feito tu, you, you.
Deixa a rede covarde a dormir na tralha.
Vê se me fisga pra ver se não luto.
Não adianta esse trotoar de barcos.
Essa espera...
Isso me deixa puto.
Deixa eu viver minha natureza santa.
Deixa eu viver nestes rios sem sal.
Deixa que eu seja um peixe.
Neste imenso Pantanal.
Não adianta esse puçá de mentiras.
Esse isopor vazio.
As minhocas em tua cabeça.
A reminiscência das bebedeiras.
Hoje os tempos são outros.
Teu bote encalha na areia. Bem feito.
Satisfeito, rio acima, eu deliro estonteado.
Livre, neste rio assoreado.
Pelo menos, um troféu a menos.
E um peixe a mais,
neste imenso Pantanal.