Versos Putrefatos da Carne e da Alma
No chão úmido e frio da podridão,
Onde os vermes cantam sua sinfonia,
Eu, ser vil, desabo em morta agonia,
Nos braços pútridos da corrupção.
Rasgando a carne em nervos e desgraça,
Ventre exposto, úlcera em fétida sina,
Meu corpo, banquete de dor que alucina,
É o altar sagrado onde a morte passa.
Oh, maldita criação de ossos e pele,
Que a vida inflama e a morte apodrece,
Em tua ruína o inferno prevalece,
E o verme, em teus olhos, já se compele.
Cuspido de Deus, abortado em mágoa,
Sou a escória do cosmos em chagas sujas,
Minhas veias, rios de pústulas nuas,
Na fossa imunda onde o sangue é água.
A alma? Apodrece, como o corpo vil,
Destilando rancor, medo e gemido,
Neste calabouço sombrio e ungido,
Onde o amor não penetra, é espectro sutil.
Maldita a carne, maldito o desejo,
Que na podridão do ventre se desfaz!
Não há glória nos deuses nem na paz,
Somente a morte, meu último ensejo!