Versos Putrefatos da Carne e da Alma

No chão úmido e frio da podridão,

Onde os vermes cantam sua sinfonia,

Eu, ser vil, desabo em morta agonia,

Nos braços pútridos da corrupção.

Rasgando a carne em nervos e desgraça,

Ventre exposto, úlcera em fétida sina,

Meu corpo, banquete de dor que alucina,

É o altar sagrado onde a morte passa.

Oh, maldita criação de ossos e pele,

Que a vida inflama e a morte apodrece,

Em tua ruína o inferno prevalece,

E o verme, em teus olhos, já se compele.

Cuspido de Deus, abortado em mágoa,

Sou a escória do cosmos em chagas sujas,

Minhas veias, rios de pústulas nuas,

Na fossa imunda onde o sangue é água.

A alma? Apodrece, como o corpo vil,

Destilando rancor, medo e gemido,

Neste calabouço sombrio e ungido,

Onde o amor não penetra, é espectro sutil.

Maldita a carne, maldito o desejo,

Que na podridão do ventre se desfaz!

Não há glória nos deuses nem na paz,

Somente a morte, meu último ensejo!

Cleyton Berkaial
Enviado por Cleyton Berkaial em 15/09/2024
Código do texto: T8152338
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