O Último Abraço
Quando o dia final, em triste abismo,
Trazer-me a morte, a pálida senhora,
Não temerei, pois sei que sem sofisma,
A única verdade é a que me devora.
Nas madrugadas frias, em torpor profundo,
Contemplo a vida em seu pálido reflexo,
E vejo a morte, fim do fútil mundo,
A dama branca, com olhar perplexo.
Não temo o seu toque gélido e forte,
Pois sei que a vida é mero interlúdio,
Um suspiro breve, antes do corte,
Que finda a existência em seu prelúdio.
O homem que sou, em carne e dor banhado,
Sabe que a morte é sua companheira,
E no último dia, de sonhos despido,
Irei ao seu encontro, sem mais canseira.
Abraçarei seu manto frio e eterno,
Deixarei para trás o corpo em frangalhos,
Pois a morte, em seu destino interno,
Liberta-me das ilusões e dos trabalhos.
Em seu abraço, encontro a verdade nua,
Que a vida oculta em sua dança vã,
E parto, enfim, para a noite crua,
Com a morte ao meu lado, minha irmã.