O Último Abraço

Quando o dia final, em triste abismo,

Trazer-me a morte, a pálida senhora,

Não temerei, pois sei que sem sofisma,

A única verdade é a que me devora.

Nas madrugadas frias, em torpor profundo,

Contemplo a vida em seu pálido reflexo,

E vejo a morte, fim do fútil mundo,

A dama branca, com olhar perplexo.

Não temo o seu toque gélido e forte,

Pois sei que a vida é mero interlúdio,

Um suspiro breve, antes do corte,

Que finda a existência em seu prelúdio.

O homem que sou, em carne e dor banhado,

Sabe que a morte é sua companheira,

E no último dia, de sonhos despido,

Irei ao seu encontro, sem mais canseira.

Abraçarei seu manto frio e eterno,

Deixarei para trás o corpo em frangalhos,

Pois a morte, em seu destino interno,

Liberta-me das ilusões e dos trabalhos.

Em seu abraço, encontro a verdade nua,

Que a vida oculta em sua dança vã,

E parto, enfim, para a noite crua,

Com a morte ao meu lado, minha irmã.

Cleyton Berkaial
Enviado por Cleyton Berkaial em 12/09/2024
Código do texto: T8150204
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