Eu odeio a poesia!
Poesia para que?
Para eu gritar o que tem aqui dentro?
Para transbordar minhas dores e rancores?
Para ensanguentar o meu lamento?
Para lagrimar os meus temores?
Vão dizer que é ucronia
Mas, eu odeio a poesia!
Nem me atrevo a fazer
Escrever minhas emoções para outra pessoa ler?
Nada a ver!
Eu não me atrevo a escrever poesia
Pode ser de noite, de tarde ou de dia
Prefiro morrer, estragar meu eu por dentro
Do que através de versos expressar meus sentimentos
E pior, quem é que sabe ler poesia?
Sempre gostam da sonoridade da rima final
Mas isso é tão banal
E os detalhes e as entrelinhas?
Dão parabéns até se rimar
Estrelas com galinhas
Longe de mim ser poeta
Sentir a vida ao avesso
Ter a mente inquieta
E nunca ter o que mereço
Longe de mim falar em rima
Ter emoção como matéria prima
Ter um mundo perdido em cada esquina
E morrer metafórico depois de entortar o dedinho numa quina
Longe de mim essa maldição de ser poeta
Aquele que faz da vida divã
Que dança com a morte e com ela flerta
E volta para casa apenas de manhã
Eu quero que a poesia seja assassinada
Não serve para nada essa grande baboseira
Para qualquer ser humano é uma grande besteira
Um grande vazio e um eterno nada
Longe de mim querer viver com a poesia
Ela se disfarça com cada ironia
Confunde aquele que atento lê
Deixa tudo caótico antes mesmo de você perceber
Maldita seja a poesia
Com seus regozijos sujos
E todos os seus subterfúgios
Perdidos em anacronia.