Poema – Serafim

Poema – Serafim

Espantado

Como um suicida preso em cativeiro

Serafim acordou transformado

Em um homem

Com lembranças de uma vida

Que ele jurou nunca ter vivido

E se a tivesse vivido

Transformaria o seu corpo

Em um altar para os vermes

Em devaneios inquietantes

A sua mente assustada

Tampouco reconhecia as suas vestes sujas de mijo

Paredes brancas e acolchoadas

Gritos de desespero e agonia

Eram o cenário do qual Serafim se encontrava

‘’ – Aonde está Deus? Aonde está Deus?’’

Gritava Serafim com os olhos arregalados

Enquanto as vozes da sala ao lado respondiam

‘’ – Cante passarinho cante, os homens de branco

Logo devem te visitar’’

Naquele quarto sozinho

Com as mãos atadas em camisas de força

Serafim acreditava, ter sido o Arcanjo mais próximo de Deus

E que após uma batalha contra o próprio Diabo

Havia acordado no corpo daquele homem

Que tampouco reconhecia sua origem

No entanto

As lembranças que vagavam sutilmente

Nos confins da sua memória

Diziam que Serafim era um homem comum

Amaldiçoado com a depressão e crises do pânico

Ele havia tentado uma overdose de anti depressivos

Três dias antes do seu aniversário

E não é irônico?

Na tentativa de destruir a sua própria vida

Foi condenado a viver eternamente

Sem as suas memórias;

Eram duas e cinquenta e cinco da manhã

Espantado

Como um suicida preso em cativeiro

Serafim havia acordado

Com as suas calças cheias de mijo

As paredes do seu quarto o assombravam

As crises de pânico o impediam de sair daquele estado

Como uma criança abandonada na escuridão

Ele chorava abraçando as suas próprias pernas

Com a esperança de que algum dia

Alguém o tirasse dali

A depressão não poderia mata-lo

Mas o medo e a covardia de tirar a própria vida

O condenavam a uma existência tão podre

Quanto aqueles que apodrecem sobre os nossos pés

Só faltavam três dias para o seu aniversário

Serafim era como todos os outros garotos da sua idade

Ele cultivava sonhos, medos, memórias

E uma vida

Da qual nunca conseguiu viver

- Gerson De Rodrigues

Gerson De Rodrigues
Enviado por Gerson De Rodrigues em 14/05/2021
Código do texto: T7255604
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