Poema - Devaneios de um homem sem fé
‘’ Se os ratos possuíssem almas
Escreveriam Poesias sobre as nossas entranhas’’
Eram quatro e cinquenta e cinco da manhã
O relógio parecia estar parado
O tempo havia se transformado em uma incógnita
Os Diabos que viviam na minha mente calaram-se
E por uma fração de segundos que pareciam décadas de decadência
Fui visitado por uma angustia que se manifestava
Em Ódio e Violência
Como se naqueles particulares segundos
Com as minhas próprias mãos
Eu fosse capaz de esmagar os crânios de um homem inocente
Só pelo prazer que tampouco conseguiria sentir com o sexo
Ali estava eu
Estagnado com um ódio inexplicável correndo pelas minhas veias
Calado na penumbra da noite
Encarando a escuridão como se diante dos meus olhos
Houvessem ninfas e prostitutas
O tesão e o êxtase tomavam conta do meu corpo
Naquele momento, naquele particular momento
Eu estupraria a mãe de cristo
Só para que a sua santidade e a minhas angustias
Criassem aquilo, que futuramente os homens
Chamariam de Deus
Por fora eu era um homem apático
Frio como se nunca pensasse em nada
Calado como um homem mudo que vendeu sua alma ao Diabo
Como era possível?
Tantos devaneios doentios
Surgirem em uma única noite
Em um único homem (...)
Naquele momento
Os loucos e o suicidas
Eram para mim como mártires
Deuses mortos injustamente
Por uma sociedade doente demais
Para compreender lapsos de sanidade
E se fossem revelados ao mundo
Todos os meus segredos?
Até mesmo aqueles que acredito esconder de mim mesmo
Quem eu sou realmente?
O homem idealizado pela sociedade
Ou o monstro enjaulado nos cárceres da minha mente
Levanto da cama em silencio
Com os pés gelados
Caminhando sobre o piso frio
Preparo uma corda na parte
Mais elevada do meu quarto
Se há alguém neste mundo
Que mereça morrer por estas mãos imundas
Que seja então, o autor destes devaneios
Sem pestanejar
Lanço-me diante do abismo
E no inferno que eu mesmo cultivei
Criei laços com as sombras
Que alimentam o meu amago...
- Gerson De Rodrigues