À PROCURA DE UM VALE PROFUNDO

À PROCURA DE UM VALE PROFUNDO

Os dias sombrios se aproximam,
Onde vejo a escuridão pelo céu,
Nas noites de breu que já rimam,
Como um casamento sem véu.

Enfrentando o frio eu me vou,
Diante do açoite do vento,
Sem mesmo saber onde estou,
Pois tudo me é contratempo.

Perdido de dia e de noite,
Segregado de todos que amo,
Num hotel sem direito ao pernoite,
Sem "permisso", mas eu sinto sono.

E os delírios me turvam a mente,
Num prenúncio de uma avalanche,
Que despenca dos Alpes em frente,
Mesmo estando somente nos Andes.

E aqui há duzentos vulcões,
Na maior cordilheira do mundo,
E o condor sobre os furacões,
Dilacera meu corpo imundo.

Pois minha alma já nem se lava,
Na encosta que a lava escorre,
Seca d'água, nem roupa enxágua,
Muito menos meu leito de morte.

E meu corpo já nem embalsamo,
Nem pirâmide eu mais edifico,
Pois não encontro o crisântemo,
Nem por isso eu me mortifico.

E assim meu esquife e andor,
Vão seguir pelas vastas colinas,
Desfilando na brisa ou calor,
À procura de um vale profundo.

Onde as mulas e as cafetinas,
Pisem e dancem conforme a festa,
E as músicas sejam de estimas,
Pois que vim tão depressa.

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