Poema – Desamor
Poema – Desamor
O grande problema
Não era amar sozinho
Era ser obrigado a me esconder
Pegar todo aquele amor, aquela paixão
Aquele brilho nos olhos e aquela incessável
Vontade de ser pai
E sufraga-la na minha alma
Até não restar mais nada
Até que toda dor, angustia, desespero
Medo e depravação tomasse conta de mim
Colocando uma falsa demonstração de apatia no rosto
Fingindo que aquela besta, sem amor ou carinho
Que mataria qualquer verme que cruzasse o seu caminho
Fosse de fato, eu, aquele Diabo!
Mentiras (...)
Tantas mentiras
E por que eu contaria a verdade?
A última vez que eu abri o meu coração
O dilaceraram como lixo, cuspiram o sangue na minha cara
E me abandonaram na sarjeta
Pedindo esmolas para matar a minha própria fome!
Não posso mais ser aquele garoto sensível
Cheios de traumas de infância
Tampouco posso ser o homem
Que os meus pais tanto sonhavam
Tenho que ser esta criatura que eu mesmo criei
Moldado pela vida, apreciado pelo Diabo
Que se odeia a cada segundo que olha no espelho
Dos poucos que me conhecem
Quando me veem com esta carcaça podre
Correm assustados!
Gritando como desesperados
- ‘’ Quem é esta criatura que tomou o seu corpo?’’
Eles compreendem que aquele não sou eu
No entanto, não conseguem ver
Que este monstro que os encara
É exatamente o tipo de criatura
Da qual eu me tornei
Mas eu tenho os meus momentos de fraqueza
Sozinho no escuro aonde as bestas
Não julgam umas as outras
Lá (...)
Eu choro...
Por horas e horas
Ao longe se escutam as lamentações
- Pobre Diabo
Devem pensar as outras criaturas.
Naquele momento (...)
Eu só quero chorar
Chorar e chorar por horas e horas
Até os soluços tomarem conta
Da minha respiração ofegante
E os meus gritos mudos
Que ensurdecem estas paredes
Calarem as minhas dores
Oh Deus (...)
Mate-me! Mate-me!
Como matastes o seu próprio filho!
E deixe-me apodrecendo nesta cama
Até que esqueçam o meu nome!
- Gerson De Rodrigues