A Criança que foi condenada a viver

Poema - A Criança que foi condenada a viver

Há uma lenda

Escrita pelos punhos dos próprios Deuses

Que uma criança gerada

Pelo amor de dois suicidas

Viveria eternamente

Dois corações partidos

Apaixonaram-se pela ultima vez

Durante os primeiros dez anos

Amaram-se completamente

No décimo segundo ano

Nasceu a sua filha

E nos próximos doze anos

Viveram uma vida normal

Mas os Deuses,

Não entregam bênçãos aos suicidas

E logo cobrariam o seu preço

No seu aniversário de treze anos

Ela se enforcou sem dizer uma única palavra

Os Deuses gargalhavam como sátiros

Enquanto os seus pais gritavam em desespero

Nos pés gélidos da sua própria filha

Nesta mesma noite

Eles foram visitados pelo Diabo

Este, que ofereceu a eles um contrato

Viveriam dez vidas

E nestas dez

Morreriam todos os dias

Como pagamento

Receberiam dez vidas ao seu lado

Desaparecendo na escuridão

O Diabo derramou suas lágrimas

O Pai da criança

Abraçando sua amada esposa

Tirou a sua vida sufocando-a com o travesseiro

Logo após, se enforcou em seus lençóis

Passaram-se alguns anos

Amarrados pelo destino

E amaldiçoados pelos Deuses

Eles se encontraram novamente em uma outra vida

Tal como o Diabo havia prometido

Eles nunca mais viram a sua filha morrer

No entanto,

Sua criança era atormentada

Pela mais terrível depressão

Crises de pânico que a faziam

Dilacerar seu próprio corpo

Inúmeras tentativas falhas de suicídio

A fizeram crescer com cicatrizes e feridas pelo seu corpo

Dona de uma timidez visceral

Ela se isolava cada vez mais

Em uma ríspida solidão

A ironia, diziam os Deuses

Que a morte aos seus treze anos

Selaria um contrato de paz

Um presente dos Deuses

Para uma alma incapaz de viver

Mas o egoísmo dos seus País

A condenou a viver em seu próprio abismo

Enquanto nenhum deles

Poderia algum dia salvá-la de si mesma

Novamente,

O Diabo os visitou

Desta vez com um novo contrato

Voltariam para o exato momento

Em que a sua filha se enforcou

A poupando de uma vida de sofrimento

Em troca,

O Diabo cuidaria da sua alma

Nos jardins do inferno...

Dizem as lendas

Que no inferno há uma criança

Que sorri para todos os suicidas

E que em seu sorriso..

Há uma Poética solidão...

- Gerson De Rodrigues

Gerson De Rodrigues
Enviado por Gerson De Rodrigues em 09/03/2020
Código do texto: T6884392
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.