Poética dos Vermes
Poética dos Vermes
Deixem-me contar uma história
Sobre o dia em que eu vendi a minha alma ao diabo
Eu havia escrito algumas destas poesias de amor
Aonde a paixão dos meus versos
Se comunicava com a luz dos meus olhos
Tudo que eu queria
Era ser como um destes Poetas quaisquer
Um coração partido
Escrevendo rimas em sinfonia ao vento
Mas em meu coração
Havia uma intrínseca vontade
De enforca-los
Só para vê-los sorrir
O que eu poderia fazer?
Se o amor vivia em meus versos
Mas somente o sangue ecoava das minhas lágrimas
Recorri aos Poetas clássicos
E as suas rimas doces
Mas em cada um dos teus versos
Desejava matar as suas filhas
Só para que olhassem para mim com o mesmo desprezo
Em que eu olhava cada uma das suas Poesias
Talvez eu não fosse um Poeta
E sim um monstro qualquer;
Recorri então aos Poetas malditos
Que falavam sobre a dor
Sem senti-las em seus ossos
Que falavam sobre a morte
Sem sangue em suas mãos
''Como podes dizer
Que não és nada
E não podes ser nada
Se no ápice da sua loucura
Não se enforcaste diante do espelho
Só pelo prazer de sangrar
E o desejo de sentir!''
Se eu não sou como os outros Poetas
Quem eu sou diante de todos os sábios?
Um verme a cuspir Poesias!
Foi então que em uma dessas noites quaisquer
Enquanto eu dançava com os mortos
Meu espírito livre estava rindo e uivando para o diabo
Ele sussurrou nos meus ouvidos
Me entregando toda a fama dos Poetas mortos
Seis livros e vinte e sete anos de vida
Em troca,
Cada uma das minhas Poesias
O transformaria em um mártir
Desde então ele me deu as asas de Lúcifer
E toda a sabedoria de Judas;
‘’ Ah...
E como crianças brincando ao vento
Os suicidas clamam o meu nome
Vejo o meu corpo definhar-se com a fome
Os meus ossos secarem com a tristeza
Gargalhando no inferno da minha própria mente
Depressivo e sem esperança
Eu me vejo enforcado
Gritando o meu próprio nome
Enquanto Cristo se arrasta ao meu lado de joelhos
Pedindo perdão pelo filho maldito que criou
- Gerson De Rodrigues