A sorte que a morte me traz
A sorte que a morte me traz é que tudo tem um fim
O amor que não satisfaz e a bebida do botequim
O fel amargo que assassina de maldito e de ruim
E os sentimentos flutuantes que saltitam num trampolim.
A sorte que a morte me traz é uma doce anomalia
Transmuto essa maldição com os poderes da alquimia
Voo em seu céu com sorrisos de alegria
E me atiro em queda livre numa suave acrobacia.
A sorte que a morte me traz é um fervoroso mistério
Que seguirá adiante além do necrotério
A morte é universal e não estipula critério
É saudade que aqui fica depois do revertério.
A sorte que a morte me traz é um reconfortante abraço
Depois de tanto sofrimento é um acalento no cansaço
Será que ficarei vagando no espaço?
Será que serei música em eterno descompasso?
Eis a sorte que a morte me traz
O sofrimento de uma vida se torna fugaz
Mesmo a dor mais atroz e mais mordaz
Não é mais forte que a sorte que a morte me traz.