Poema – 38
Poema – 38
Todas as noites
As dezoito horas e quarenta e dois segundos
(Horário do meu nascimento)
Eu brinco com o destino
Colocando uma única munição
Em uma velha arma
Dentro da minha própria boca
Consigo escutar um pequeno estalo
Todas as vezes em que eu falho em morrer
É como escutar a mesma musica
Todos os dias
Esperando um final diferente
Você sabe que em algum momento
Escutará uma diferente melodia
Então você nunca desiste de encontra-la
Dizem que os suicidas
São sempre acompanhados por duas Entidades
Ambas querem carrega-lo para o inferno
Mas somente uma delas
Quer vê-lo sorrindo
O quão irônico não seria?
Morrer no mesmo horário
Em que eu chorei pela primeira vez
Ao ser recebido neste mundo;
Pensem na vida
Como um infinito desfiladeiro
Aonde há uma ponte
Que dividem os dias
Mas ao anoitecer
Quando dormimos
Estas pontes são removidas pelo próprio Diabo
E o desfiladeiro transforma-se em um abismo
Naquele particular momento
Estamos todos mortos
Quando acordamos pelas manhãs
Somos obrigados a atravessar aquele
Imenso desfiladeiro
Alguns de nós,
Compreendem que existe um Abismo
Nos esperando a cada travessia
Outros,
São capazes de atravessar imensas pontes
Sem um único suspiro ou lamentação;
Quando coloco uma arma na minha boca
No exato momento em que fui concebido pela vida
Sou colocado neste mesmo desfiladeiro
Cada uma das vezes em que eu aperto o gatilho
Dou dois passos em direção ao abismo
Mas ao mesmo tempo
Dou três passos em direção a vida;
Há uma dor que vive em meu peito
Que eu sei que eu nunca vou exorciza-la
Não posso fechar os olhos
Tampouco fingir que ela não existe
É como morrer todos os dias
E continuar vivendo
Você pode visitar todos os médicos
Se embriagar com todas as drogas
Chorar durante horas e horas
Até seus olhos incharem
Mas ela nunca vai embora
Você nunca vai conseguir atravessar
Aquele desfiladeiro
Sem antes almejar o abismo
Para sobreviver os dias
Nas noites eu brinco com o destino
Em algum momento
Apertarei o gatilho pela última vez
E finalmente verei o que há do outro lado
Do desfiladeiro
Uma nova vida?
Um homem morto e crucificado?
Ou a repleta supressão do nada...
- Gerson De Rodrigues