Poema – Baratas e Depressão
Poema – Baratas e Depressão
Não sei quantas horas já se passaram
Ou há quantos dias estou aqui
A água do chuveiro já não me aquece mais
Talvez abraçar as minhas próprias pernas
Seja uma maneira de me aquecer
Ah quanto tempo eu não me alimento?
Será que sentiram a minha falta?
Talvez eu devesse me levantar
Colocar uma roupa e olhar as minhas mensagens
Tenho certeza que ela sente a minha falta
Não (...)
Isso foi ano passado,
E ela já foi embora...
Não consigo parar de tremer,
Sinto os meus ossos rasgando a minha pele
Acho que eu preciso de um cobertor
Um abraço (...)
Eu queria mesmo era um abraço;
Me levanto para desligar o chuveiro
Sinto uma dor de cabeça constante
E uma fraqueza nos ossos
Talvez seja a fome...
Saio do banheiro em busca de uma toalha
Talvez eu a tenha esquecido na lavanderia
Vou checar as mensagens,
Eu deveria apagar essas fotos certo?
Ela já foi embora...
Nenhuma nova mensagem
As luzes seguem apagadas há dias
Então é isso que chamam de solidão?
Vou até a cozinha em busca de algo para saciar minha fome
Não há nada na geladeira
Algumas moscas talvez...
Vou tentar dormir um pouco
Talvez a fome e a dor passe com o tempo
Não encontro a minha toalha
O cobertor deve me aquecer...
Ah quanto tempo existem
Tantas baratas no meu quarto?
- Olá senhora barata
Estamos juntos nessa não é mesmo?
Durmo por alguns dias
Acordo suando frio
Eu realmente preciso comer alguma coisa
Me enrolo no cobertor
Desço pelas escadas
Ah quanto tempo eu não saio de casa?
- Olha só, a sorveteria que eu vinha quando criança ainda existe
A minha mãe costumava me trazer aqui
E aquela, é a loja aonde eu comprei a nossa aliança
- Sim, eu tenho o costume de falar com você nas minhas memórias
Sabe?
Acho que perdi a vontade de comer
Volto para casa
Tranco as portas e as janelas
- Olá senhora barata, você ainda está ai
Talvez, eu só precise de mais um tempo sozinho
Trancado no banheiro...
Não se preocupe comigo
Quando eu já estiver morto
Vocês podem morar dentro de mim.
- Gerson De Rodrigues