Poema – Fluoxetina
Poema – Fluoxetina
‘’ Quando os padres
rogaram pelo meu nome
suas igrejas transformaram-se
em cinzas
Quando roguei pelos padres
transformei suas cinzas
em templos de dor’’
Existem mil versões de mim
aprisionadas dentro
da minha mente
Eu suplico para que a
minha parte boa vença essa guerra
Mas ela insiste em chorar
e dizer que não sou capaz
Aonde estão todos
os meus sonhos?
São estes restos
sufragados pelo meu medo?
Ascendam as luzes quando
vierem me visitar
Mas não se assustem
quando virem a escuridão
Eu choro lágrimas
que não pertencem
aos meus olhos
Olhando através
de quadros antigos
vejo uma criança solitária
Que nunca sentiu o amor
dos seus pais
Hoje eu vejo seus olhos
nos espelhos da vida
e peço perdão
Por não tê-la matado
quando tive a chance
Como um tolo acreditei
que eu poderia
fazê-los sorrir
Como um tolo acreditei
que eu poderia
fazer alguém feliz
Mas a felicidade
só existe na ausência
do meu corpo crucificado
em suas paredes
Ou das minhas fotografias
em seus álbuns de família
Sinto-me um ingrato
por não conseguir
retribuir o amor
Que todos vocês
deram por mim
Como um Deus
que foi sacrificado em vão
por aqueles que não conseguiram
retribuir o seu perdão
Hoje eu vejo aquela criança
perdida dentro
do meu subconsciente
Brincando com a sua inocência
e afogando na minha dor
Eu gostaria de sentar
ao seu lado e abraçá-la
Mas me conhecendo
sei que não vou conseguir senti-la
Então cairei de joelhos
e chorarei ao seu lado
Certa vez um homem sábio
me disse que eu nasci
para expressar a minha dor
Hoje eu sei que ele sempre
teve razão
Afinal
os tolos me chamam de Niilista
quando na verdade
eu sou apenas um homem quebrado
Se eu pudesse
daria a minha vida
para salvá-los da dor
Eu já sofro demais
vocês não merecem sofrer comigo
Prometo que trarei flores
aos mortos
quando o cavalo branco
vier me buscar...
- Gerson De Rodrigues