Poema – Gênesis 22:10
Poema – Gênesis 22:10
Ah...
se vocês pudessem ver
o mundo com os meus olhos
Crucificariam seus próprios filhos
para salvá-los de uma dor ainda maior
Se pudessem ler
os meus pensamentos
Enforcariam uns aos outros
como um ato de misericórdia
Mas eu jamais
os condenaria
a tamanho sofrimento
Não irei tirar dos cegos
o desejo de viver
Ou dos surdos
sua predileta sinfonia
Sofrerei em silencio
enquanto sujam os seus pés
com o meu sangue
Sofrerei tragédias terríveis
ainda que as minhas mãos
pintem as mais deslumbrantes paisagens
E destas paisagens
nascerão as mais odiosas lembranças
Fazendo com que os homens
lembrem-se do dia em que
crucificaram o meu pai
Transformando suas asas negras
em um batizado de sangue infernal
do qual vulgarmente chamaram de parto
Vocês viram em mim uma linda criança
ainda que escamas cobrissem
todo o meu corpo
Amaram-me como as rosas
dos campos mais floridos
Ainda que o veneno que corre
por todo o meu corpo
matassem todas as flores
Talvez eu seja um homem doente
um louco destes que
merecem ser jogados em qualquer asilo
trancado em quartos de chumbo
com remédios e camisas de força
- Por que não consigo
ver em mim
o amor que sentem
um pelos outros?
Com patas de bode
e escamas pelo meu corpo
rastejarei até o inferno
Procurando abrigo em uma
mente confusa
Na qual a depressão criou
ninhos de cobra;
Eu sou o monstro que eu vejo
no espelho?
Ou o amor que
sentem por mim?
Prometo...
que pouparei
todos vocês desta dor
que me consome
Não irei incomodá-los
com o meu sangue
ou com os meus gritos
Farei preces para que vivam bem
enquanto maldições corroem
a minha alma
E quando estiverem sobre
o meu tumulo
digam que eu fui um homem bom
Mesmo que eu nunca
tenha acreditado nisso...
- Gerson De Rodrigues