Poema – Memórias póstumas

Poema – Memórias póstumas

Quando eu disser

que me cansei de todas as coisas

não tentem me salvar

Deixem-me cortar os meus punhos

e sangrar até a luz do meio dia

Quando perceberem

que já estou morto

Transformem este dia

em um feriado santo

Batizem os seus filhos

em meu sangue

Exibam o meu corpo

em um altar de glória e poder

Profiram mentiras em meu nome

lembrem-se de memórias das quais

eu nunca vivi

E tampouco

gostaria de tê-las vivido

Coloquem flores

sobre o meu tumulo

Gritem por todos os cantos

o quanto sentem a minha falta

Digam

‘’Amo-te mais do que todas

as coisas’’

Enquanto olham as minhas velhas

fotografias de momentos dos quais

poderiam ter me dito tais palavras doces

Sim! Ascendam velas

em meu nome

Digam aos meus parentes e amigos

que sentem a minha falta

Mas por favor

esqueçam das vezes

das quais eu estava ao seu lado

Esqueçam de uma vez por todas

todos os passos frios que dei por

estas ruas vazias e cheias de ódio

Não lembrem-se das minhas

unhas arranhando estas paredes sujas

enquanto clamava por ajuda

Fechem os olhos e tampem os ouvidos

tal como fizeram das vezes

que supliquei em lágrimas

Lembrem-se das poucas

vezes em que eu fui capaz de sorrir

Ah (...)

quando eu caminhar

em direção aos vales distantes

Não culparei nenhum de vocês

por não compreenderem os meus demônios

Apenas deixarei que lembrem-se

das vezes que os transformei em canções poéticas

para os seus ouvidos surdos!

Não se preocupem com as lágrimas

ou com as dores do meu ato final

Continuem rezando

para os seus deuses de mentira

Vivendo suas vidas vazias

e cheias de fortuna

Continuem!

suplico que continuem!

em suas guerras ideológicas

Esqueçam aqueles que como eu

morreram abraçando suas próprias pernas

Esqueçam-me de uma vez por todas

enquanto lembram-se

do homem que eu nunca fui...

- Gerson De Rodrigues

Gerson De Rodrigues
Enviado por Gerson De Rodrigues em 29/05/2019
Código do texto: T6659975
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