Poema - Eclesiastes 12:7
Poema - Eclesiastes 12:7
Quando eu morrer
lancem as minhas cinzas nos rincões do universo
para que os átomos que habitaram o meu corpo
voltem para as estrelas
A verdadeira liberdade
é morrer e transformar-se em nada!
Não quero o perdão dos deuses
tampouco os pecados do inferno
Quero transformar a mim mesmo
no mártir do nada
e na representação de tudo que existe
A realização de que vou virar pó
paradoxalmente me tranquiliza
Eu desejo deixar este mundo
sem verdades ou convicções
quero ser enterrado como um homem sem nome
para que os vermes que corroerem meus despojos podres
se engasguem com a minha miséria
O que eu fui em vida
de nada importa aos tolos que me enterrarem
Não deixarei lembranças
lágrimas ou paixões
Joguem os meus bens materiais aos porcos
e queimem os meus livros em suas igrejas
O suicídio para mim não é o suficiente!
Se as suas dores podem ser curadas
com uma corda em seu pescoço
ou laminas em seus punhos
sorria como um tolo
e dancem com os deuses
pois a sorte está ao seu lado
A origem do meu sofrimento
está intrínseca na essência da minha alma
e para me livrar deste tormento
devo sofrê-lo intensamente
até que os últimos vermes se alimentem das minhas entranhas
No momento do meu nascimento
amaldiçoei a minha própria mãe
e os deuses esconderam-se em cavernas
Como se a miséria
possuísse o semblante do diabo
gargalhadas foram ouvidas no inferno
A morte para mim
não é apenas um alivio
ou um destino inevitável
É uma forma de pedir ao mundo
perdão por ter nascido
Quando eu morrer
não derramem as suas lágrimas
festejem junto aos sátiros
com orgias e palavrões
transformem o meu túmulo
em um lugar profano sobre a terra
para que nunca mais pronunciem o meu nome
- Gerson De Rodrigues