FINITUDE
Quando eu partir para a incógnita do eterno
quero sentir pela última vez, liberto de ansiedade,
a maciez e o lírio de tuas brancas mãos
deixando em meu corpo inerte o teu encanto.
Num gesto de desilusão, antes do adeus final,
lembrarei dos teus hábitos, deslizes e segredos,
que não consegui deter com meu jeito ingênuo de ser,
mas levarei comigo apenas a ternura que nos uniu.
A noite tão faceira despontará, sem rodeios.
O sol em fim de jornada parecerá perdido
no horizonte infindo do arrebol carmesim
permitindo, complacente, o meu anunciado fim.
Meus olhos vaguearão no vazio na busca dos olhos teus,
e os olhares perscrutadores das pessoas que me amam
derramarão lágrimas como gotas de chuva sob o céu cinza
numa tela nívea como estátuas de marfim.
O vulto do silêncio lembrará abraços,
O frescor das manhãs e meus versos deitados,
Mas no holocausto só me restará cansaço
Em nostálgico pensar num escuro pálido.
Antenor Rosalino