Resolução (Aguardando o barqueiro)
Resolução
(Aguardando o barqueiro)
Vou caminhando abraçado
Com a minha solidão.
Um passo lento, erradio,
Um salto apressado
Para o meio do vazio
Do coração.
Vou observando solitário,
Com o meu olhar perdido,
A invisível multidão.
Um brilho esquecido
Em mais um aniversário
Da escuridão.
Vou falando emudecido,
Com o meu falar sem sentido,
Da insofrível despedida.
Uma dor que nunca se cala,
Um tormento dentro da mala
Da partida.
Vou sentido em profusão
Com meu nariz desapurado
O cheiro da putrefação.
Um almíscar bem exato,
Um triste odor resgatado
Do olfato.
Vou ouvindo silente
Com meu vacante escutar
O ruído inexistente.
Um som exaurido
Um nada, um silenciar
Do ouvido.
Já não há
Porquê caminhar, olhar,
Falar, sentir
Ou até mesmo ouvir.
Só quero agora me sentar,
De frente, bem defronte,
Deste rio mitológico,
Do Estige ou do Aqueronte
Esperando em solilóquio
A chegada do Caronte.
© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves
31 de maio de 2018