DISLÉXICO

Com estardalhaço

Habito canções e mitos e preâmbulos sistemáticos pitorescos

De contos medievais e epopeias orientais inacabadas;

Consolido visões, coleciono raios-gama e amálgamas

E com eles decoro os salões em ziguezagues e arabescos.

Que me importa a forma ou o contorno de rostos inexpressivos

Se a alma expressa em linguagem teleguiada de sinais

Ininteligíveis, indecifráveis até aos hierografiteiros de plantão,

A mais pesarosa e decaída incumbência da razão? Ostensivos

São, na trajetória do spray de carvão em muro ou parede

Macetado ao som penitente e metralhadérico

De picaretas, motosserras e bigornas. Ecos

Volumétricos da expansão cosmonáutica das palavras, e com sede

Aquele que por acaso passar, em rotatividade cinética e sem rumo

Pela via crucis do Discurso (como entidade) audiovisualsensomotora

Há de beber e estancar, de súbito, o trator da Ignorância

E medir as constantes do instante, à base da moral e da ética

Est-ética;

Pat-ética;

Mera e inevitável-tristemente

Demente;

Incompetente.

De todo este processo, ¿que juízo faz o que analisa

O muro ou parede rabiscados de um palácio ou barraco,

Com cara de palhaço intermitente,

Sem conseguir encerrar com êxito a piada “Veemente”

Em alheio resumo acadêmico

–– endêmico, diga-se de passagem –– da Mona Lisa?

Juíza

Dos olhares penetrantes que condenam sua escolha,

Rir sem rir, com escárnio nos beiços a óleo

Da alma do artista, ativista de bombas-relógio

Nos porões da dita-dura, mal ou bem dita “dentadura”

Nos calcanhares do poeta e sua prole.

Que senso demanda, por fim, as cardioplastias destes versos?

Ao pé de ouvidos (duvido, que tédio essas catacreses!

Prefiro cem vezes crêpes suíços <–– contradição em jogo ––

Mestiços de pão de queijo e torradas com geleia

A bocejos com asas de xícaras e criados-mudos; absurdo!

Imenso

Imerso

Nas horas átonas de vidro, trancadas para o lado de fora

O Agora

No Espaço-Tempo da antirrazão

Complexa, ao olhar desatento, metido em inércia

Inexa, comprimida em balões de gás hélio,

Ou bolhas de sabão

Até que o indivíduo, individido

Resolva levantar do aconchego da sua poltrona

Axioma

Da preguiça universal para consultar o dicionário

A fim de expulsar

(Expurgo do seu condado)

O diabo do campanário.

Hilário.

s.d.

F H Pupo
Enviado por F H Pupo em 18/03/2025
Código do texto: T8288678
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