Poema - Agosto de 95

Poema - Agosto de 95

Durante anos tentei explicar

As minhas dores

Ou o que as vozes me diziam

Escrevi Poemas, Transcrevi contos e livros

Até mesmo contratei psicólogas e prostitutas

E de nenhuma maneira consegui explicar

O que desde a epiderme da minha infância

Me enlouquecia como um lunático

Em camisas de força

Tentei transformar a dor em ódio

E o ódio em combustível

Mas até quando um homem fadado a loucura

Poderia suportar as mentiras

Que contava a si mesmo?

Nem mesmo na filosofia

Encontrei abrigo para a minha insanidade

Era como se o Diabo

Estivesse comigo desde o momento

Em que abri os olhos pela primeira vez

E assim como o Diabo

Nenhum de nós dois era passível de perdão

Reconhecimento ou sequer compreensão

Era muito mais fácil julgar os monstros

Do que perguntar a eles

O porque haviam crianças decapitadas em seu armário

E assim como o Diabo

Busco a redenção da minha própria alma

Uma redenção quase que Poética

Afinal

Não deveríamos nos tornar os monstros

Que vocês tanto temem e julgam?

Se todos os suicidas tirassem suas vidas

Se todos os loucos se entregassem a insanidade

O mundo estaria ajoelhado ao fracasso

Presos na cruz ígnea de si mesmo

Cristo sempre foi o reflexo da derrota

Do fracasso, do medo, do perdão

Enquanto aqueles que são julgados insanos

Moveram a história com o sangue

De suas próprias mãos

E as lágrimas contidas em seus travesseiros

Se nos abdicarmos da loucura

Se nos entregarmos ao suicídio

Do que viveriam os outros?

De onde nasceriam suas músicas?

Qual mente insana iria compor novos Poemas?

Que outro maldito abusador escreveria

Grandes romances

Aonde estariam escondidos os cineastas?

Quem ousaria pintar uma noite estrelada

Sem nunca pensar em explodir seu próprio crânio

Não há o que se compreender na loucura

Deve-se aceita-la

Como uma coroa de espinhos

Em um reino de cinzas

Sou hoje um suicida

Estuprando a vida com as mãos amarradas

Sou hoje um Poeta

Escrevendo sobre a loucura

Sou um amante das putas

E o filho de todas as orgias

Sou um homem louco

Que encontrou a razão...

- Gerson De Rodrigues

Gerson De Rodrigues
Enviado por Gerson De Rodrigues em 20/10/2023
Código do texto: T7913262
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