Poema - Apenas um Poema
Poema – Apenas um Poema
Eram duas e vinte e cinco da tarde
Ela estava no trabalho
Eu estava lavando louça
E como em qualquer um dos dias
Da minha vida
Em silêncio, batalhas terríveis
Eram travadas no interior mais sórdido
Da minha mente
Vozes
Gritos
Músicas
Pornografia
Violência
Auto mutilação
Drogas
Cenas de suicídio
Corpos mutilados
Auto sabotagem
Paranoias
Elas nunca se calam
Mas naquele momento
As duas e vinte e cinco da tarde
As vozes estavam mais altas
Mais violentas
A dor em meu coração rasgava a minha alma
O barulho da água batendo contra a louça
Estava me enlouquecendo
Tudo me enlouquecia
Era como se o Diabo se espalhasse
Por todo o meu corpo
Naquele momento eu pude compreender
O que Emily Rose sentiu
Corroendo as minhas vísceras
Envenenando o meu sangue
Adoecendo a minha mente
E sem perceber
Como um relâmpago
Em único impulso
Enfio a faca de cozinha na minha garganta
Não sinto dor alguma
Exceto pelo impacto do meu crânio batendo
Contra o chão
O sangue me engasgando
O corpo se debatendo em agonia e desespero
E aquela sensação de liberdade
Paz...
As vozes em silêncio
Eu só precisava fechar os olhos
E sentir o Diabo levando a minha alma
Horas depois ela me encontraria
Ali jogado em meio ao sangue
Com uma destas facas simples de cozinha
Enfiada na garganta
E um sorriso bobo estampado no meu rosto
Ela gritaria o meu nome
Choraria sobre o meu cadáver
E me odiaria por toda eternidade
Ninguém jamais me compreenderia
Mas se sentissem a minha dor
Se pudessem ao menos ouvir as vozes
Ficariam surpresos
Como eu suportei sobreviver por tantos anos (...)
No inferno ao lado do Diabo
Eu choraria em silêncio
Não pelo arrependimento de ter me matado
E sim...
Por isso ser apenas um Poema.
- Gerson De Rodrigues