Poema - Lágrimas de homem sem fé

Poema - Lágrimas de um homem sem fé

Arranquem o meu câncer com as unhas

Masturbem as vísceras do meu cadáver

Mas nunca roube de um homem

O amor em seus olhos

Usurparam de mim

Tudo aquilo que um dia

Eu havia crido

Usurparam me as lembranças

Usurparam me a fé

E o mais importante de tudo aquilo

Usurparam me, a minha sanidade (...)

Sou hoje um homem doente

Desejo as prostitutas

Tal como os crentes

Almejam o perdão de Cristo

E eu não os culpo por dobrarem seus joelhos

Se a dor e a loucura não me acometesse

Estaria eu ao seu lado

Implorando pela miséria cristã

Ah a miséria...

Quantos Filósofos e Poetas

Não sujaram seus pés nestas mesmas

Calçadas imundas

Ainda que me chamem de Poeta E Filósofo

Negarei estes títulos até o túmulo

Que rasguem os meus livros

E os queimem em catedrais

Sou um amante das Putas

O mártir dos desajustados

(...)

Ao anoitecer

Quando as baratas saem dos esgotos

E os doentes agonizam em insônias

Observo a minha imagem no espelho

Transfigurada como o próprio Diabo

Vozes ecoam em minha mente insana

Medos sussurram em meus ouvidos

As mãos trêmulas tentam enxugar as lágrimas

De um homem sem esperança

Entre um gole e outro

Uma música qualquer ao fundo

Tento mentir para mim mesmo

Que amanhã ou depois

Serei um homem melhor

Enquanto o Diabo sentado ao meu lado

Gargalha sobre o dia em que me viu nascer

Tal como o dia em que me carregará em seus braços

Para o vale dos suicidas...

- Gerson De Rodrigues

Gerson De Rodrigues
Enviado por Gerson De Rodrigues em 28/09/2022
Código do texto: T7616473
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