Na frente do espelho
Se você não gosta do gosto, não coma
Se não gosta do cheiro, se afaste
Se não gosta de ver, não assista
Se não gosta de ouvir não ouça
Mas, por favor, pare!
Pare de usar sua doença como uma desculpa
Para ser insensível com todos
Como se tivesse licença para ser medíocre
Todo esse teu sarcasmo
Esse teu cinismo
São disfarces que escondem um ser pequeno
Morrendo de medo
Implorando por afago e sossego
Mas, ninguém te aguenta por muito tempo
Teu sorriso cansa, tua voz nauseia
Teus olhos que encaram e buscam descobrir mais e mais
Agora só me trazem angústia
Como se fossem janelas para uma alma morta
Apodrecendo num sepulcro esquecido
Jamais visitado, cuidado
Completamente entregue ao vazio
Não é como se não tivessem te amado
Até tentaram, um erro
Tu desgasta até o peito mais sereno
Teu amor é cáustico, teu autocuidado é violento
Do teu beijo escorre um licor, um veneno
Tuas crenças são hostis
Tuas lutas nem sempre são claras
Tuas forças muitas vezes são mentiras
Você se perde nesses tantos personagens
Tua poesia me soa doentia
Quando recita emite um tom covarde
Que dilacera as entranhas da alegria
E lamenta a morte do amor com uma falsa piedade
Nas madrugadas teu pensamento é desconexo
Manchados com o mais sujo vermelho
Te condeno sempre que me vejo no reflexo
Ó, meu eu, amaldiçoado no espelho.