LOUCURA DOLORIDA

Subo o caminho de paralelepípedos

Ladeado pela grama mal cuidada

E vou em direção ao velho prédio

Cercado de árvores envergadas.

O cheiro da comida que sai

da cozinha industrial

Rescende a tudo e nada misturados

O que ali tem de melhor

é a grande fumaça cinza

Que sai pela chaminé de lata.

A cigarra começou a cantar, mas vai escurecer

É hora de se recolher.

Ali não se anda, mas se arrastam pés

Lenta e pesadamente que é

Para não alarmar os pensamentos.

Os ombros se curvam cansados

Os olhos observam soturnos

O cheiro dos corredores é típico de urina

E as luzes não iluminam mais do que podem

Tudo é amarelo encardido.

O mundo grita amarrado em lençóis

e a baba escorre dos dentes mal cuidados

As mãos se mexem irrequietas

E as cabeças balançam em eterna concordância.

Os loucos sorriem e riem e choram e explodem

Caídos nos corredores,

Seria a emoção um sinal típico de loucura?

Represadas ou soltas fazem um mal incomum.

Passo em revista, tomo os remédios

Entro no quarto e me deito na cama,

Mas não durmo, não, não durmo

Por mais que os remédios sejam fortes

A apatia é maior do que a sonolência

E a boca fica solta num esgar rasgado.

Ah, Vida Encolhida! Que faz mal até

P'ra quem nasce duro e espinhoso

A vida chove contínuamente

E a raiz sucumbe esmorecida.