Poema - Belfegor
Poema - Belfegor
Há tanta dor nesta voz que vos fala
Que as árvores choram
Ao me verem passar
Mas somente os pássaros
Compreendem o meu desespero
E os meus anseios pela liberdade
Mataria todos os homens
Por um pouco das suas asas
Assim voaria
Voaria até os confins dos céus
Para que os Deuses me punissem
E cortassem as minhas asas
E tal como lúcifer
Fosse arremessado
No mais profundo abismo
Na esperança
De que daquele inferno
Eu nunca mais pudesse sair novamente
Quero que me aprisionem
Em um lugar aonde eu não possa mais sentir dor
Aonde ninguém possa me ferir com mentiras
Ou verdades injustificáveis
Quero ser jogado na mesma cela
Que os mais terríveis assassinos
Para que me odeiem e me julguem
Então me matem e façam da minha alma
Um excremento do mais odioso
Quero ser esquecido
Pelos Deuses
Não quero ser chamado de Ateu
Quando eu chegar no Inferno
Tampouco desejo a alcunha de Satanista
Quando eu mostrar ao Diabo seus símbolos em meu corpo
Quero ganhar a alcunha de traste!
Sujo! Miserável! Imundo!
Um delinquente sem alma
Vagando no abismo do nada!
Almejo que todos os santos
Cuspam em meus despojos podres
Com nojo do homem que eu fui um dia
Que a minha mãe tenha medo
De recitar o meu nome
Que negue mil vezes diante do espelho
Que aquela praga algum dia saiu das suas entranhas
Que rasguem as minhas fotografias!
Minhas memórias!
E tudo que algum dia possa se conectar a mim
Pois a minha história
É sedenta de sangue!
Por onde eu passei derramei lágrimas
E arrastei tripas pelo chão
Fiz de solos sagrados
Santuários de orgias
Só para ver a mãe de cristo nua
Crucificada na mesma cruz que o filho
Enquanto o Diabo gargalhava ao meu lado;
Não espero que algum dia
A vida me acolha em seus braços
Enxugue as minhas lágrimas
E me entregue uma nova vida
Sem sofrimentos ou angustias
Viajei ao inferno
Mais vezes do que o próprio Diabo
E em todas elas
Eu enxerguei o meu futuro
Um pobre coitado
Enforcado em um canto escuro qualquer
Com vermes se alimentando dos meus sonhos
- Gerson De Rodrigues