Blues do meu tédio

Eu me vejo como um poeta maldito

Que pensa e escreve os seus sentimentos

E sobre a morte há muito que ser dito

E sobre a vida, os seus descontentamentos

Eu não peço licença para viver

Mas me sinto constantemente como um intruso

Quem vê meus sorrisos a se estender

Não sabe nada dos meus pensamentos confusos

E eu digo sempre que estou em paz

Quando na minha mente só há guerra

E a boca hoje se desfaz

Perante aos prazeres ínfimos da Terra

E eu me vejo assim tão mordaz

Como se fosse um astronauta vazio

E hoje já não penso mais

Sobre esse inferno que mata de frio

E há quem diga que tento me esconder

Como se eu fosse alguém que não se esquecesse

Sobre sentir não tenho nada a perder

Mas confesso o meu total desinteresse

De repetir sempre os mesmos ditados

De ser sempre somente mais um

De ficar correndo para todos os lados

E no final ser somente mais um bêbado comum

Eu não penso em me apaixonar

Mas confesso que é inevitável

Quando as ondas me jogam no mar

O meu barco se mostra mutável

E eu me afogo no meu próprio veneno

E fico aqui tranquilo perdendo meu tempo

E quanto mais eu fico no sereno

Mais eu adoeço no meu acalento

Eu sou um grande poeta no meu mundo

Vivo cheio de plantas e de arbustos

Eu sou um ser humano imundo

Que pensa o que quer sem medir os custos

Eu quero mesmo é que o meu peito se exploda

Para ver se consigo ao menos sentir

Algo diferente dessa coisa toda

Algo que me faça ao menos sorrir

E eu gosto de gritar para o vento

Para ver se minhas palavras voam bem distante

Eu pego um banco e então me sento

Enquanto navego no meu instante

Acho que estou ficando velho e irritado

Já não consigo mais me perdoar

Parece sempre que está tudo errado

Fora de ordem e fora do lugar

Mas para quem cultua o caos já deveria estar acostumado

Com esse inferno sempre a correr

Bebo meu sangue já crepitado

Pelo meu ácido a corroer

E meu desinteresse é sufocante

Eu vejo meu tédio num ritmo crescente

Eu sou um verme ambulante

Que em lugar algum se sente pertencente.

Gabriel C. Machado

30/06/19

Gabriel Cordeiro Machado
Enviado por Gabriel Cordeiro Machado em 30/06/2019
Código do texto: T6685472
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