Do Avesso

Faço e refaço-me,

Num ir e vir sem fim,

Descalços cardaços,

Enforcam meus pés.

Lusco-fusco hodierno,

Arrepiando os pelos caídos,

Queimados em guimbas

Que se acendem no brilho da íris.

Rotamente amargurado,

Despenca em pencas podres,

Empesteando o ar doentio,

Como o vírus de um parasita.

Cite o verbo em verso,

Só pra ver se o velho veto,

Faz ventar às vésperas

Do vespertino ventrículo.

Nascituro insuportável,

Ri até chorar da gravidade,

Rodopiando no abismo rico,

Anjo fosco que se faz caído.

Chove-me se puderes,

Pranteando os cílios pestanejantes,

Balangando sua franja acortinada,

Feito crina de serpente arrependida.

Laço o desenlace só por modismo,

Infinito é o oito depressivo que se curva,

Na balaustrada da fronte pensativa,

Que pende ao solo que lhe pede a vida.

Veja se já vê o que vem já,

Com vistas de falcão destemido,

Anoitecendo os lábios risonhos,

Guardando os dentes que são

O que resta ao defunto indigente.

Se não é gente que se atente a

Registrar, que seus ossos são o

Único tesouro que um cadáver vivo

Tende a desejar.

Vem pra mim pra me fazer premiar,

Com cabresto eu me dou sem hesitar,

Já que besta sempre fui ao meditar,

Mais coisa que se coisou em descoisar.

Ao avesso me revisito em intimidade,

Um quase isso se não fosse um duvidar,

Plantado de trás pra frente se existe um começo,

Arremedo de pouca monta que insiste em se olvidar.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 06/02/2019
Código do texto: T6568797
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