Pranto Seco
No escorrer da poeira,
É possível vislumbrar,
Aquela expressão terrosa,
Já sem eiras e beiras.
Escorada em alicerces
De um vento seco,
Acumulando gestos,
Num horror de aterro.
O gasto da paisagem,
Cada vez mais sólida,
Gravura de medo,
Aguarda a hora sórdida.
Tique e taque do relógio,
Feito de nuvens brumosas,
Nublando olhos cerrados,
Grafados em órbitas de ódio.
Espantalho de si,
Faz fugir sua existência,
Fissurando as rugas secas,
Sulcando a pele em resistência.
É quase aquela hora de ontem,
Mas ainda falta um pouco para
O instante que prevê o amanhã,
No término do movimento, a fala.
Esse eco grita pra dentro,
Faz ouvir sem desejar ser ouvido,
Assoprando o pó de tantos outros
Mortos que se acumulam no chão batido.
Cava a cova da lembrança amarga,
Destilando as gotas do suor melado,
Garapa sofrida do corpo adestrado,
Fazendo erosão no sorriso duro.
Já se vão tantos em tantas agonias,
Num breviário de lamentos contidos,
Mastigando a língua rochosa em aporia,
Ruminando o sabor do próprio engasgo.