Luz de Vaga-Lumes
No escuro eu vejo,
Com sombras de dúvidas,
Apalpando o breu,
Descaminhando pelos céus.
Cada medo é uma interrogação,
Que jamais pretende obter resposta,
Nas trilhas das idas e voltas de um
Círculo que insiste em nos rodear.
Caço casos para poder narrar,
Faço da boca um feto que se encolhe,
Recolhe a língua que é cordão umbilical,
Aprisionado na laringe que se empareda.
Cada sílaba é uma pedra de Sísifo,
Árdua tarefa de tagarelar o silêncio,
Encostado no resto de algum verso,
Maltrapilho de fonemas oblíquos.
Se fosse seria um antes dos fósseis,
Beirando o início dos tempos sem
Que o tempo tivesse um início.
Claro como as trevas de um abraço,
Enlaçando o sujeito num aperto de amasso,
Omoplatas como asas de anjo demoníaco,
Acolhendo o desejo de Tânatos que espreita
O peito de coração vazio.
Recolho na palma da mão o brilho,
Estio do fruto contido na concha
Seguindo os venosos rios ao Estige,
Navegando com a bússola que aflige.
Já não se faz raro o retrato quebrado,
Fissurando a imagem não sentida,
Transbordando as cores opacas,
Tornando todo ato passado vintage.
O retrô é sempre o futuro de ontem,
Que no passado de hoje, se faz presente
No amanhã.
Esquece a vela acesa e derrama a cera,
Para poder dar liga á vida desconstruída,
Num ápice de um feito, desfeito no leito
Endurecido pelo magma de mármore.
Veludo noturno rodeado de estrelas,
Estelas esculpidas por um inexistente destino,
Formando a franja, separa o mesmo consigo,
Abóbada que verga ante o peso da própria agonia.
Cai a chuva de vaga-lumes apagados,
Formando neblina espessa,
Forrando o chão de pequenas mortes,
Mas cada vida é uma grandeza e cada
Morte um universo que deixa de existir
Para que outro possa continuar.
Acender os insetos é fazer nevar luz,
Polvilhando a terra de lâmpadas miúdas,
Iluminando os caminhos pisados,
Povoando os rios feito constelação,
Consternados pela ação dos brilhos,
Bebendo da fonte para resplandecer por dentro.
Tudo é tão nada que não importa vivermos,
Um lance é a eternidade passando por nós,
Num jogo de azar que o Cosmos faz parte,
Movendo os dados até o último de nós.